quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sem ti


Levemente, de mansinho
Fui vagueando pela noite.
Vi-te ao longe, com carinho,
Mas marcaste-me de forte foice.

Não é de preocupar,
Já lá vai tempo escuro…
Tempo de me culpar,
De me encontrar desnudo.

Já é dia … levantei-me,
E pensei que ontem te vi.
Já é dia e lembrei-me
Que consigo viver sem ti.



Ricardo Matos

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A outra metade


"Quando este corpo meu esfacelado
Baixar á leiva húmida da cova,
Hão de os jornais carpir a infausta nova,
Taxando-me de sábio consumado.

Estalará na imprensa enorme brado,
Pedindo a ressurgência d’um Canova
Que a morta face em mármore renova
Para insculpir meu busto laureado.

E algum dos imbecis necrologistas,
Com soluçantes vozes de saudade,
Dirá em ricas frases nunca vistas:

'Esse génio imortal, rei dos artistas,
No céu pede ao Senhor que a outra metade
Reparta por vocês, ó jornalistas!'”



Camilo Castelo Branco

Julgo este grande Senhor verdadeiro merecedor de ver os seus poemas divulgados.