domingo, 13 de abril de 2008

O Jogo de Xadrez


"Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia na Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.




À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário.
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.




Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.




Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.




Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.




Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indif'rentes.




Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranqüilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.




Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.




Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranqüila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.




O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.
A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.




Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós
Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença."






Este é um Poema de Ricardo Reis!




Vem na sequência do Post anterior!




É como um jogo de xadrez que os grandes políticos americanos encararam a guerra do Iraque?!


É como um Jogo de Xadrez que os Americanos encararam a Guerra do Golfo?!




É como um Jogo de Xadrez que os Alemães encararam o Holocausto?!






Pensem todos nisto por favor ...

4 comentários:

Sofia disse...

Poema espectacular!

Tens bom gosto!

Ora bem que eide dizer?
Que para muitos uma guerra é algo bana, totalmente normal e que para essas pessoas a vida de inocentes de nada vale!

Realmente para alguns, parece que estao a jogar a xadrez e que derrubam os peoes porqeu precisam de derrubar a rainha e o rei, mas na realidade estamos a falar em matar pessoas so para ter poder, so para que sejam bem vistos ou evidenciar que a sua religiao é mais forte...

Continuo a achar as guerras a coisa mais estupida que o homem inventou!!

Beijinhos

Lisa S. disse...

olá ricardo1 queria so deixar aqui os meus parabens pelo teu blog fantastico1 beijos da gi que não te curte nada LOOL

Marta Santos disse...

Ola!
Tu encontras cada poema fantastico!!!:)
O tema do poema é mesmo muito bom.
De facto muitas pessoas encaram a vida como um jogo de xadrez,e sao capazes de passar " por cima das outras pessoas" para atingirem os seus objectivos.
Todas as guerras sao jogos de xadrez, porque em todas derruba se os "peoes".
Na vida todos somos peões.Por isso temos de saber dar o passo certo na hora certa :)
Beijo Grande :)!!!

Anónimo disse...
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