domingo, 13 de abril de 2008

"A Cada Não Que Dizes"




A Rami al-Dura, de 12 anos, morto em 2000 pelas balas do ódio na Faixa de Gaza.


(Pedro Abrunhosa | Pedro Abrunhosa)


"Lento,
Eu vi morrer o tempo,
Morto por fora e por dentro,
Como um pai enganado,
Um filho roubado,
Uma mão de soldado, um pecado,
Um cálice, um príncipe,
E num salto de lince,
Um fim que está perto,
Um quarto deserto,
Dois tiros no escuro, um peito feito no muro
E o rosto já frio, o som da morte no cio,
O passo a compasso
Das botas cardadas,
Espadas à espera,
O gume,
O lume da fera.
E ninguém percebeu que o mundo inteiro sou eu.


Longe,
Um mar que se rasga e me foge,
Uma dor que, por mais que se aloje, não vale o aço da bala
Coração que me embala, que estala, que empala no medo,
Um dédalo, um dedo,
Um gatilho já preso,
Um rastilho aceso, um fogo às cores pelo céu,
Desenhos loucos no breu,
Pintura pura a canhão,
Talvez vinte homens não cheguem,
Talvez aqueles me levem,
Talvez os outros se lembrem,
Que são homens como os que fogem
E nenhum Deus é maior,
Num ódio feito de dor,
E ninguém reparou que o mundo inteiro parou.


A cada não que dizes,
Abre-se um lugar no céu.
A cada não que dizes,
Abre-se um lugar no céu.


Fracos,
Como farrapos na cama,
Orgulho feito de lama, e o verbo ser a partir.
Palavras presas na alma, ruas de vento e vivalma,
Um límpido tiro, um suspenso suspiro,
Pietá nas notícias,
Gravatas impunes negando as sevícias
Vozes de ferro, de fogo, de fome, de fuga, de facas,
E as rugas pobres, já fracas,
Um poço morto de sede,
Grafftis numa parede,
E ninguém percebeu, que o mundo inteiro sou eu.


Outros,
Loucos, perdidos, sentidos certeiros,
Crianças feitas guerreiros,
A quem foi roubado o perdão,
Dois braços cheios de pão,
Napalm, na palma da mão,
Um fósforo fátuo,
Nos jornais o retrato
De um estilhaço, um abraço,
Um pedaço de espaço
De uma pátria sem chão.
Uma pétala pródiga, um remorso confesso,
Talvez a dor no regresso,
Talvez um dia o inverso,
Mas isso já eu não peço,
O mundo inteiro a fugir,
O mundo inteiro a pedir.
Que se oiça alto o teu Não.


A cada não que dizes,
Abre-se um lugar no céu.
A cada não que dizes,
Abre-se um lugar no céu.


Outros,
Fracos,
Longe,
Lento.

Não"




Este é o primeiro post que não tem um poema de minha autoria! Já há muito tempo que ando a pensar postar esta música pois ela realmente retrata a frieza de muitos homens de "h" muito muito muito pequeno que são cobardes!

Esse são aqueles que "Talvez (...)" não "se lembrem, Que são homens como os que fogem"

Enfim!

Que mais haverá para dizer?!

Acho que esta música e o presente vídeo retratam tudo!

2 comentários:

Sofia disse...

Bem...verdadeiramente triste...

Para que serve a guerra? Para nada! A nossa raça é tao inutil, tao estupida. O que é a guerra? Carnificin, Morte, Derrame de Sangue Inocente como o do Rami.

Como são alguns homens capazes de assassinar uma criança?

Este tipo de coisa revolta-me porque vejo a fraqueza do nosso povo explicita. É revoltante e quase incrédulo.

Esta postagem fez-me chorar, já nem sei o que dizer...

Beijinhos fica bem :)

Marta Santos disse...

Vou comentar com uma musica que adoro e que acho que tambem retrata bem essa musica de Pedro Abrunhosa.

"Quando alguém pensa que és deus
E tem poder para fazer o que faz
Cria mentiras já com intenção
Fazer a guerra em nome da paz
Então vivemos na zona limite
Perto do nada ali lá atrás
Perdidos entre um dever e um haver
Esquecidos nas ruínas da paz
Enquanto houver pais orgulhosos
A ver filhos marchar para lá
Sem perguntarem em nome de quem
Se perdem vidas entre um vai e um vem
Então vivemos na zona limite
perto do nada, ali lá atrás
Perdidos entre um dever e um haver
Esquecidos nas ruínas da paz

Não há mais nada a sentir
Não há mais nada a seguir
Parados no meio da rua
Perdidos sem encontrar um sinal

Quando a coca-cola for feita de arroz
Talvez se saiba quanto custou
Tanta mentira e tanta ganância
Que de alguns se apoderou
Então vivemos na zona limite
perto do nada, ali lá atrás
Perdidos entre um dever e um haver
Esquecidos nas ruínas da paz

Não há mais nada a sentir
Não há mais nada a seguir
Parados no meio da rua
Perdidos sem encontrar um sinal"