sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Até logo


E é desta forma que se chega ao fim
De uma caminhada que foi frutífera.
Bastante importante que foi p’ra mim
E a vossa presença foi honorífica.

Então o meu futuro irei seguir
Por um caminho diferenciado,
Mas concerteza que irei sentir
Que pelo que aprendi é sustentado.

A todos quero então agradecer
Por me terem aqui acompanhado
E me terem ajudado a crescer

Para que este mundo tão enfadado
Não se torne para mim tão surpreso
P’ra que saia o mais possível ileso.




Ricardo Matos


Na despedida dos colegas de trabalho ...

Em vão


O que fazes tu nesta vida vã?
O que procuras tu no nosso mundo?
Ainda haverá uma mente sã
Neste planeta que está moribundo?

Muito do que no mundo há é são,
Mas não deixam que seja emancipado.
Não irás por este caminho em vão,
Sabendo que tudo será travado?

Ai Portugal, onde é que tu te encontras?
Voltas as costas para quem é teu
E só te mostras nessas outras montras,

Parecendo assim um grande europeu!
Afinal todo este mundo é igual,
Nem mesmo escapa o nosso Portugal!




Ricardo Matos

domingo, 19 de dezembro de 2010

Mundo


Anda este mundo numa roda viva
Com os seus cantos em ebolição,
Está tudo duma forma tão activa
E não é para coisa boa, não!

Ideologias já estão esgotadas.
Pareceres já nem sequer são ouvidos
E todas as pessoas aldrabadas
Não permitem seres muito contidos.

Será que está perdido este mundo?
Haverá ainda hipótese alguma?
Ou já estaremos no do poço fundo?

Não sei que remédio lhe dar, em suma,
Não somos unidade singular
E ao mundo ninguém o vai regular!





Ricardo Matos

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lembra-te


Lembrar do que eu sonhei
É bom e mau por conseguinte,
Pois vejo o que não e conquistei,
Sendo bom ou mau ouvinte.

Fica com estas minhas palavras,
De alguém que tanto te quer bem
E fica atenta ao campo que lavras
Pois é só teu, de mais ninguém!

Aqui estarei para te ajudar
Naquilo que fazes e não,
Comigo poderás lutar ...

Dou-te as ferramentas para a mão!
Um amigo sabes que está aqui,
SEMPRE disponível para ti ...




Ricardo Matos



Para ti Maria João ... nunca te esqueças! Bjo

Ultrapassar


Se a vida não está para me sorrir
É porque um sorriso eu também não dou
Pois é um espelho que vai reflectir
Tudo aquilo que eu demonstro que sou.

E o passado será para esquecer?
Não, mas apenas para recordar,
Pois nele não se deverá viver
Porque o que foi nunca mais vai voltar.

E é então que a vida assim continua
Num rumo que só tu podes levar,
Pois depende de ti que a vida é tua

E nunca a vida deverás parar.
Obstáculos? Não te deixes incrédulo!
O mal? Torna-o algo mais benévolo!




Ricardo Matos

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Vidas


Vai vagueando veementemente,
Varrendo a vida vertiginosa,
Sentindo sempre selvaticamente,
Que de vida a vida está sequiosa.

Sede para vencer a vida nossa,
Sede de tirar o maior proveito.
É meu e algo de que só eu possa
Sem que a ninguém cause algum despeito.

Vem meu sol iluminar este dia
Que não sai da profunda escuridão,
Mas sei que tenho toda a ousadia

Para vencer toda esta podridão,
Que corrói a vida que há no mundo
E a nós (Homens) empurra para o fundo.




Ricardo Matos

Sabedoria


Aquando da escolha do meu caminho
Sei sempre que irei ter o meu amparo.
Posso parecer longe, até sozinho,
Mas dos meus amigos nunca me separo.

Longe ou perto, é geografia,
Vale é o relacionamento,
Assim dir-me-ia aquela Sophia
Que tudo sabe sobre o sentimento.

Perdão é para quem o sabe dar
E não guarda p’ra si o seu amor
E então sabe que também pode errar

E do saber não é dono e senhor.
Todos nós podemos outros amar
Não poderemos é guardar rancor.




Ricardo Matos

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma lei apenas


Tens uma condição de sem-abrigo
Imposta a ti pela sociedade
Que não te quer dar um ombro amigo,
Mas não é condição de humanidade?

Por muito poucos que ainda sejamos
Tentamos mudar um pouco do mundo,
Assim não somos todos que ajudamos
A sociedade a ir mais para o fundo.

Aprendi que Deus só tem uma lei,
Mas que é a mais difícil de cumprir,
Mas é por essa que me regerei

Para sempre bem eu poder dormir.
Cumpri vós esta regra com fulgor.
É muito simples! Chama-se Amor.





Ricardo Matos

Merecida Homenagem


É com fulgor e de forma perversa
Com que a todos nós se mostra e age
Já daquele tempo era esta conversa
Do nosso eterno poeta Bocage.

Era com sentimento e de amor
Com que se faziam suas canções.
Foi, é e será grande este Senhor
Que em tempos foi chamado de Camões.

Também por nós ele fez coisa boa,
Abriu olhos também a muita gente
Que se quer dono do nosso país.

Oiçam bem o que esta alma diz
Pois sabia o que tinha em mente,
Falo do nosso Fernando Pessoa.




Ricardo Matos

Enfim


Sim, tu quiseste tudo acabar.
Eu facilitei no que me pediste.
Sim, minha amiga quiseste ficar
E até isso tu me conseguiste.

Que mais é que eu te podia fazer?
Não me fizeste uma proposta justa.
Vês o que me tens vindo a dizer?
É tudo aquilo quanto mais me custa.

Não entendo o que afinal me queres.
Diz-me a saber com o que contar.
Já estou farto desta indefinição.

Já nem sei se tenho o coração
Disponível para quem quer sondar,
Digo que era teu! Só para saberes.




Ricardo Matos

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Telepatia


Nem sempre a telepatia
Inibe o contratempo
E a simpatia
Também causa desalento.

Mas o que tudo cura
É o nosso amigo tempo,
Que não há mal que sempre dura,
Vai e vem como o vento!

Mas aqui estou eu
Para me redimir
No que a mim me toca

E ter cuidado com a boca
Que pode mal traduzir
Tudo o que aconteceu.




Ricardo Matos

Com Abrigo


Sem abrigo de tecto,
Mas com abrigo no coração,
Procuramos dar também afecto
E não só alimentação.

Desengane-se quem pensa
Que é muito mais que vós
Pois não sabe a recompensa
De ouvir sabedoria na vossa voz.

Muito não podemos dar,
Mas temos um objectivo,
Queremos estar presentes

Pois muitos a vós estão ausentes
E é de qualquer ser vivo
O dever de ser amado e amar!




Ricardo Matos

Porto


Ao entrar em ti cidade
Não sei o que sinto quando te vejo.
Quero sair, mas tenho Saudades,
Pois vejo em ti tudo o que almejo.

Orgulhoso me vou dizer
Em cada canto que do mundo pisar
Pois de mim soubeste fazer
Um portoense que te sabe amar.

Mereces ser falada
Pois boa gente tu criaste,
Mas só te sabem injustiçar.

Desculpa-me se te deixar,
Pensa que traída não ficaste,
Porque lutarei para que sejas elevada!




Ricardo Matos

Fado


Quando nós nada temos
E tudo nos querem dar
Desconfiados, não sabemos,
Se devemos aceitar.

O “tudo dar” não tem de ser
Apenas bem material.
O que eu quero dizer
É também sentimental!

É de amizade que falo,
De atenção que podes dar.
Ou então só queres saber

Como a vida me está a correr
Por a tua não te ocupar ...
É assim, é o meu fado!




Ricardo Matos

sábado, 13 de novembro de 2010

O Poeta


O poeta chora e sente
O que outros sentem, porque choram.
O poeta transmite e não mente
O que outros odeiam ou adoram.

O poeta não se limita a si,
Nem ao tempo em que habita
Este mundo, mas também em ti
E em passado ou futuro abilita.

O poeta chora versos,
Canta estrofes,
Ama poemas,

Transmite problemas,
Amores fracos e fortes,
Conceitos perversos.



Ricardo Matos

Doi ou não doi?


Sabes se doi ou não
Doi, esta ferida que se abre.
Dor física ou de coração,
Qual delas é a mais grave?

A física doi e passa
No coração não doi e doi,
Mas não passa e trespassa
O coração que se corroi.

Coração é psicológico,
Essa mágoa que se deixa,
Essa dor que não doi, mas doi,

Essa revolta que se constroi
E não aparenta dor para queixa
E não é óbvio ou lógico ...




Ricardo Matos

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O que sinto


É com raiva que te amo!
Amo-te com paixão!
Este amor que é ufano
E que irrompe do meu coração!

Mas a raiva que sinto,
Não é só de amor, não.
Digo-te isto pois não minto,
Desiludiste a minha ilusão!

Mas eu sei desculpar,
É minha virtude e/ou defeito.
É como flechas este amor

Que impõe um grande ardor
E sofrimento no meu peito
Por a ti ... te amar!



Ricardo Matos

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Caminhada


"Nessa mata ninguém mata
a pata que vive ali,
com duas patas de pata,
pata acolá, pata aqui.

Pata que gosta de matas
visita as matas vizinhas,
com as suas duas patas
seguidas de dez patinhas.

E cada patinha tem,
como a pata lá da mata,
duas patinhas também
que são patinhas de pata."



Sidónio Muralha



PS: Também para as crianças ... não somos afinal todos um pouco?!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Caminhos


São certas as armadilhas
Que pela vida vais apanhar
Desengana-te porque sarilhos
No teu percurso irás encontrar.

Há momentos maus e bons
Pois de tudo a vida tem.
Vês os dias em vários tons
Com satisfação ou com desdém.

A tua vida és tu quem a faz?
Vai tentando e logo vê se resulta.
De tudo podes observar,

Mas tenta o teu caminho continuar
E tenta que seja uma conquista
Pois termina quando o homem jaz.




Ricardo Matos

domingo, 31 de outubro de 2010

Poema do Homem Só


"Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém."



António Gedeão

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Mar


"Semelhante a algum monstro, quando dorme
O mar... Era sombrio, vasto, enorme...
Arfando demorado,
Imenso sob os Céus!

Tal imenso e sombrio o mar seria
E assim, em vagas tristes arfaria
No tempo em que o espírito de Deus
Sobre ele era levado!"



Ângelo de Lima
(Porto, 30 de Julho de 1872 - Lisboa, 14 de Agosto de 1921)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ensinamentos da Vida


O que a vida a todos ensina
É o que queremos aprender.
Ou estamos alerta, de fascina,
Ou não queremos, tão pouco saber.

O que a vida a todos ensina
É que há mal e que há bem,
Que tu escolhes o que te anima
E o caminho que levas também.

O que recebes, de que modos,
Depende daquilo que dás.
A vida é pelo que dura

O que consegue é o que fura,
Nem sempre o que só o bem faz,
É o que a vida ensina a todos.


Ricardo Matos

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Rosa sem Espinhos


"Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!

Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.

E quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
Bem me podes acudir:

Deixa do cálix divino
Uma gota só libar...
Deixa, é néctar peregrino,
Mel que eu não sei fabricar ...»

Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?

Tanta lástima e carinhos,
Tanto dó, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai, que não te entendo, flor!"


Almeida Garrett

sábado, 23 de outubro de 2010

Público do meu blog / Audience of my blog


É com enorme prazer que verifico que o meu blog está a ser visitado por vários continentes e não se fica pelo meu país...

Sinto que sou um verdadeiro Navegador, mostrando um pouco da cultura do meu País, um pouco de um cidadão deste País, mais um pouco de Portugal.


Deixo um desafio a todos quanto visitam este blog:

Deixem pelo menos um comentário, seja ele do vosso agrado ou desagrado.

A vossa opinião é muito importante para mim.

Bem-hajam!


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It is with great pleasure that I note that my blog is being visited by several continents and it's not just my country ...

I feel I am a real browser, showing a little bit of culture in my Country, a little bit of a citizen of this Country, a little more of Portugal.


I leave a challenge to everyone who visits this blog:

Leave at least a comment, be it of your pleasure or displeasure.

Your opinion is very important to me.

Thank you!


PS: Excuse my poor english.



Ricardo Matos

TABACARIA


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."



Álvaro de Campos, 15-1-1928

A nossa Casa


"A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onte está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Costrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jadim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim..."



Florbela Espanca

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Lua


Noite …
O silêncio invade a rua …
Olhas para cima e vês a Lua
Que para tudo e todos está exposta.

Tal como nós não está sempre disposta
A apresentar-se no seu esplendor,
Uns dias cheia, outros de volume menor,
Mas de todas as formas bonita se mostra.

Contudo, por vezes envergonha-se
E nem sequer a consegues ver.
“É Lua nova!”, vais logo dizer.
É noite e sonha-se …

Gosta de brincar a nossa amiga Luas:
Quando cresce está em forma de D,
Quando decresce em forma de C.
Não é mentirosa pois de defeitos está nua.

Tem também um grande amigo.
É o Sol, esse fiel companheiro
Que a ilumina e da noite a torna candeeiro
Quando a sós estás comigo …

É dia …
Foi a Lua e vem o Sol aclarar
A nossa vida e por outra noite vamos esperar
Para podermos adorar outro luar.



Ricardo Matos



Este poema foi escrito em 2008 para a minha amiga Marta Santos, que aqui vem também comentar este blog, pois é uma acérrima aficionada da lua.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Os versos que te fiz


"Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz."


Florbela Espanca

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Mostrengo


"O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,

E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:

«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»

E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»"



Fernando Pessoa

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Morrer por mim


O direito, por ventura,
Me deram de eu escolher
Se queria vir à aventura
Que é a vida viver?

Algum dia me perguntaram
Onde ia querer nascer
E as leis me enunciaram
Segundo as quais me iria reger?

Que moral tem este mundo
De agora me dizer
Que, apesar de estar no fundo,
Não posso escolher morrer?

Afinal onde é que estamos
Ó meus “amigos” políticos?
Em graves situações ficamos
E continuaremos em estados críticos?

Quero ser livre civil,
Com direito a escolher,
Como os capitães de Abril,
Quando eu quero morrer.

Por mais caminhos que tomem
Nunca irão conseguir
Sentir por aqueles a quem doem
As dores em que se vão esvair.

Soltem as almas aos céus
Que deles vieram para estes corpos
E deixai-me ir a Deus
Para aquele mundo dos mortos.

Tenham piedade do ser
Que está em seu pobre ninho
Que para poder morrer
Tem qu’ir p’ra país vizinho.


Ricardo Matos


Por aqueles que lutam pelo direito de escolher morrer ... pela Eutanásia ...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Original é o poeta


"Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer."


Ary dos Santos

No caminho em que vamos


Tanto tino
Todos temos
E tudo vemos
Em desalinho.

A incoerência
Está tal
Que vai mesmo tudo mal
Com tamanha arrogância.

E olhamos
Uns para os outros
Com certa desconfiança

Que até pensam em matança
Como português a mouros
No caminho em que vamos.




Ricardo Matos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Futuro vivo


Vai brincando com o vento,
A seara a cantar,
Com um leve movimento,
Melodia de embalar.

Como está um dia belo
Neste campo reluzente.
No céu, o Sol bem amarelo
Aquece a alma à nossa gente.

Assim devia ir o povo
Concentrado num objectivo,
Abrindo agora caminho novo
Mantendo o futuro vivo.



Ricardo Matos

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cântico Negro


""Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!"



José Régio

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Iguais ... um dia


Lutam pela diferença os ricos
E pela igualdade os pobres,
Mas somos todos os iscos
Desta sociedade e seus podres.

Somos iguais a corpo nu,
Diferentes no quotidiano,
Se sou eu ou se és tu
Nunca vai haver engano.

Iguais na vida nunca seremos,
Nas posições ou meios sociais.
Para o mesmo lado não remaremos,
Por muito parecidos que sejamos, jamais.

Um dia, sim, seremos iguais
Que a todos calha a mesma sorte,
Ricos de cortiça ou de cristais,
Nenhum escapará ao destino da morte.





Ricardo Matos

domingo, 26 de setembro de 2010

Pelo sonho é que vamos


"Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos."

(Sebastião da Gama)

Conhecimentos e Mudanças

Olá caros leitores,

Antes de mais, devo transmitir-vos que, a partir de agora, vou postando aqui poemas que considere marcantes para mim de grandes autores portugueses e vou intercalando com poemas escritos por mim. Pelo menos um por semana vou tentar colocar aqui.

De seguida, tenho a dizer-vos que vamos mudando certas formas de ver a vida e os seus acontecimentos consoante vamos conhecendo os peões deste belo e trágico jogo ...

Tenho conhecido, sem dúvida, pessoas que - pelo menos a mim - não me interessam muito, mas tenho tido a felicidade de conhecer pessoas que me enriquecem também ...

Já há algum tempo uma Senhora, que também tem um blog - o qual aconselho (http://sineste.blogspot.com/) - Maria de Lourdes Beja, num dos seus comentários me incentivou a continuar a apostar na poesia. Desde Já, muito obrigado Dona Maria de Lourdes pela sua amabilidade e por se dar ao trabalho de ir lendo os meus poemas.

Tive, há bem pouco tempo (cerca de uma semana), o prazer de conhecer outra Senhora, a Conceição, que também já comentou no meu blog, que me abriu janelas fantásticas para o mundo da literatura. Não é que já não tivesse pensado nelas, como lhe transmiti na longa conversa que travamos, mas nunca tinha falado com ninguém acerca desse assunto como fiz com a Conceição (permita-me que assim a trate). Espero que goste dos meus poemas e não se iniba de duras criticas que ache que deva fazer acerca da minha "arte" (se é que me permitem os artistas que assim a trate).

Foi para mim um enorme prazer falar, igualmente na mesma conversa anteriormente referida, com o Coelho (amigo presente no jantar) que, com opiniões muitas vezes antagónicas às que eu tinha e transmitia, me abriu igualmente horizontes para o juízo acerca da arte (ou a falta dele). Uma conversa muito rica em conhecimentos e na qual, confesso, me senti tão pequenino por vezes, à beira do vosso "monstruoso" e belo conhecimento. (obrigado a ambos).

Por fim, mas não menos importante, BEM pelo contrário, começou com uma troca de e-mails em que lhe enviei alguns poemas e ele ia fazendo os seus comentários, sempre muito elogiando ou contrariando o que transmitia nas minhas "criações". Sempre soube que gostavas de escrever e que até tinhas alguns poemas, mas da forma como os revelaste ... foi surpreendente, admito. Houve tempos em que estivemos distantes, o que me deixa uma certa mágoa, confesso, e posso mesmo dizer arrependimento em certos casos, pela forma como te julguei. Mas ainda tenho 21 anos e acho que temos muito tempo pela frente para recuperar ... Obrigado por seres quem és e por me teres passados alguns dos teus preciosos genes. Obrigado ... PAI.



Não queria aborrecer ninguém com esta minha postagem (tento ao máximo omitir os estrangeirismos, como post), mas acho que o agradecimento não fica mal a ninguém e é minha obrigação agradecer a estas pessoas pelo que me vêm transmitindo.

Obviamente, não posso deixar de colocar aqui o meu avô materno (Rui) pelos conhecimentos que me transmite ao nível da literatura portuguesa e por me deixar ir espreitando a sua "biblioteca".


PS: desculpem se me esqueci de alguém ou de referir algum facto de igual importância. Quando utilizo o Título de "Senhora" é com o maior respeito, pois para mim, é o grau máximo que pode ser atribuído ao ser humano de género feminino por aquilo que é, que transmite e dá enquanto indivíduo à sociedade em que está inserida.
Conceição ... Já estou a ler "O Principezinho". O prometido é devido.

A todos ... OBRIGADO.


Ricardo Matos

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Vou indo


Já estou farto de esperar por tudo aquilo que quero.
Já estou farto de nada ter e muito eu espero.
Gostava de não ter tanto de esperar
E de algo poder ter sem muito lutar.

É desgastante andar sempre a correr,
De um lado para o outro sem saber o que fazer.
E nada é demais valorizado aqui.
Quando vou saber ... foi avaliado por ti.

Que importância tal, afinal me dás?
Ando sempre em frente e tento não olhar para trás,
Mas é muito complicado quando o que tenho
É de menos valorizado e nunca chega quando venho.

Ao pé de ti, se estou, nunca sei o que sentir:
Se ficar, se fugir, se agradar ou apenas partir.
Aguardar não vou já mais, pois não por mim esperas.
Vou andando no meu caminho e apanhar-me-ás se me amas deveras.




Ricardo Matos

Portugal cego, mas que vê


Foste pátria invejada
Pelos feitos que tiveste,
Numa Terra alargada
De sentimentos agrestes.

Quando a 12 começámos
Muitos heróis haviam passado
Pela História que marcámos
Com futuro traçado.

E assim foste evoluindo
Com cantores e guerreiros
Que iam ganhando e traduzindo
Várias vitórias em muitos terreiros.

E em tempos tudo perdeste,
Muita coisa ficou para trás.
Os papéis tu inverteste
E tomaste decisões más.

O povo as costas te voltou
Louvando-te sempre seu nascimento.
Mas por ti de lutar deixou
Gozando-te apenas escasso momento.

Todos dizem que está mal,
Esta e aquela decisão.
Mas a ti, meu Portugal,
Vão-te construindo o caixão.

O que nunca foste te desejam
Os teus filhos, de zangados.
Espanhóis que todos sejam
Todos esses desesperados.

Uns só alimentam egos,
Outros só protestam no café.
Este Portugal cheio de cegos
E que ao mesmo tempo vê.



Ricardo Matos

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Universidade da Vida


Uma vez houve um menino,
de quem ninguém queria saber,
acanhado e cheio de tino,
era muito o seu conhecer.

Sempre soube o que queria,
sempre honesto ele foi,
mas disseram-lhe um dia
que disso a vida não se constrói.

Baralharam aquele menino
que tudo tinha planeado
para num rumo levar a vida de tino.
E agora? Para que lado?

Para que lado gira o mundo
afinal? Que fazer agora?
Nem vida real, nem pano de fundo.
Tudo ao menino deitaram fora.

Mas por muito que abaixo se vá
ele nunca vai desistir.
Vai lutar contra a vida má
e intenção boa irá resistir.

A nadar contra a corrente,
contra o vento lançar o balão,
mas lá vai o menino contente
com a esperança no coração.

Contrariedades a vida tem,
curta, média ou grande seja.
O mal? Transforma-o tu em bem
e do bolo no topo coloca a cereja.

E na da vida universidade
tentas andar tu direitinho.
De experiências há variedade.
O professor? É o menino.



Ricardo Matos


Cada um de nós tem um pouco deste menino ... É a minha opinião

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Problemas que são meus


Muitas vezes vagarosa
Esta vida num vaivém,
Apreçada e vertiginosa
Muita gente a tem também.

Pelas ruas da amargura
Muitos lá vão vagueando
E são sol de pouco dura
As vitórias de Fernando*.

Como é cruel o mundo
Numa vida sem apreço
Alegrias que vislumbro
E não sei se as mereço.

“Um azar nunca vem só”
É uma grande verdade,
Já dizia a minha avó
E dura na eternidade.

Mas espero que tudo passe
Após a tempestade a bonança vem.
Se pudesse, a trespasse
Alguns problemas daria a alguém.

Ninguém aceita, no entanto,
Só me resta resolvê-los.
Se caio, logo me levanto.
Conselhos? Sim, vou recebê-los.

Agradeço a meus amigos
O apoio que me dão.
Se novos ou antigos
O que importa é a união.

Muita gente tem também
Problemas como eu.
Nesta vida de vaivém
Eu só sinto o que é meu.



Ricardo Matos



*Alusão a Fernando Pessoa e a Mensagem

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sofro


Sinto, sofro
E saúdo séria saudade.
Fraco, ferido no foço
Faminto de fidelidade.

Eterna esta paixão
Que por ti é emanada,
Mas me derruba pelo chão
Por não corresponder a amada.

Que faço eu Senhor?
Sofro e sigo?
Sofro e espero?

Se espero desespero,
Se seguir eu não consigo
Traduzir o meu Amor...



Ricardo Matos



Dedico-te a ti ...

sábado, 19 de junho de 2010

Hino à Pátria, Portugal


Heróis fomos noutros tempos,
Era Camões vivo cantor.
Rumo a grandes terras, grandes momentos
Ó Pessoa aqui foste senhor.
Intemporal, questionaste nosso eventos,
Sabendo do mal que se viria a impor.

Deus sempre foi invocado,
O poder divino pelo homem reclamado.

Mas tal poder nunca nos foi dado,
Apesar disso temos ar intemporal,
Rumo ao futuro glorificando Portugal!



Ricardo Matos

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Passagem da Vida


Quem por nós passa na vida
tem uma grande importância
de forma positiva ou com arrogância
marca na chegada e/ou partida.

Quem por nós passa na vida
ajuda-nos a definir o nosso eu
com religioso ou com ateu
seja qual for a experiência vivida.

Quem por nós passa na vida
deixa sempre um pouco de si
nunca ficaremos sós

e uma estrada colorida
é pintada por quem chora e quem ri
quem na vida passa por nós.


Ricardo Matos

Este poema é dedicado a todas as pessoas que fizeram, fazem e farão parte da minha vida!